* Por Leonardo Milane
Durante o primeiro semestre desse ano, esse era o comentário que mais se ouvia entre os investidores e nas rodas de happy hours do pessoal da Faria Lima e do Leblon que trabalha no mercado financeiro. O coronavírus seguia a todo vapor, em número de contaminados e mortes; países anunciavam lockdown; indicadores econômicos pioravam a cada semana; e a volatilidade corria solta na bolsa, na renda fixa e no câmbio. Assim como toda crise aguda, o mercado estava no modo pânico, como um filme de terror sem fim.
Eis que chegamos ao final do ano e, analisando friamente, o investidor que foi bem assessorado recuperou boa parte das perdas do primeiro semestre (ou até teve um pequeno lucro). Durante uma crise, o papel do assessor de investimentos se torna ainda mais relevante quando comparado a situações normais de temperatura e pressão. Não é apenas “Caro Sr. Cliente, tenha sangue frio, uma hora essa crise vai passar”. Cada sugestão de investimento precisa ser acompanhada de um arcabouço técnico, com embasamento teórico e empírico. Mesmo que a sugestão seja “não faça nada Sr. Cliente; a melhor coisa a fazer com sua carteira, nesse momento, é deixá-la como está”, ela precisa ser acompanhada de algum racional.
Em 2019, ano em que praticamente quase todas classes de ativos performaram relativamente bem, quase qualquer investimento que o cliente tivesse escolhido por conta própria, sem consultar seu assessor, teria performado bem.
Em 2020, tudo foi, literalmente, diferente. Foi a primeira vez em que o investidor brasileiro “não teve para onde correr”: historicamente, as crises foram acompanhadas de Selic alta (ou em trajetória de alta); dessa vez, deixar seu patrimônio atrelado ao CDI (rendendo ao redor de 2% ao ano) “enquanto esperamos a crise passar” não foi tão confortável como em outras crises do passado recente (quem não sentiu saudades, no auge da crise, do CDI a 1% ao mês?); sem contar que teve até fundo DI dando retorno negativo.
Nesse sentido, o papel do assessor de investimento durante esse ano foi imprescindível. 2020 separou os homens (bons assessores) dos meninos (assessores médios e medíocres). E o cliente pôde sentir isso na pele através do retorno e da volatilidade da sua carteira durante o ano, além da importância da proximidade de um especialista em momentos difíceis e de extrema volatilidade (recebi relatos de pessoas próximas, atendidos por profissionais de diversos escritórios, sobre o sumiço de seus assessores durante a crise).
Acredito que os assessores de investimento que se destacaram em 2020 carregam três características específicas:
1. Priorizam a satisfação do cliente em detrimento da receita (comissionamento); a comissão é apenas a consequência de um bom trabalho, e nunca a prioridade. “Satisfação do cliente” no mundo dos investimentos é igual a combinação entre “boa performance dos investimentos sugeridos, ajustado ao perfil de risco e necessidade de liquidez do cliente, e um atendimento rápido e dinâmico”; o momento que o cliente mais precisa do contato próximo do seu assessor é quando está dando tudo errado (crises; bear market), e não quando tudo vai bem (vide 2019);
2. São obstinados por gestão de risco e adequação da carteira ao perfil de risco do cliente. Um assessor experiente não sugere bolsa para seus clientes sem falar em hedge (via de derivativos ou posições short) e position sizing (ajuste do tamanho de cada posição em bolsa de acordo com as flutuações do mercado). Além disso, a diversificação global (investimento em ativos do exterior e posições dolarizadas) são fundamentais para diversificação.
3. Possuem noções básicas de finanças comportamentais. Abordarei em breve esse tema com mais detalhes. Resumidamente: efeito manada e loss aversion podem levar um investidor inexperiente a perder tudo que tem. A lógica do “tenha sangue frio, você vai recuperar esse prejuízo em algum momento” nem sempre é válida (carregar ou aumentar uma posição que você esteja no prejuízo nem sempre é a melhor estratégia).
Um dos anos mais desafiadores de todos os tempos chega ao fim com algumas lições para os investidores. Entre elas, a certeza de que é de suma importância poder contar com o auxílio de um assessor de investimentos experiente e tecnicamente preparado para te ajudar a navegar durante anos bons e, principalmente, anos difíceis. Tendo a acreditar que o papel do assessor de investimentos é semelhante ao médico de confiança de uma família: ele sempre é consultado antes da tomada de decisão final, principalmente nos momentos mais difíceis. Pense bem sobre como cuidar da saúde financeira e do seu patrimônio daqui para frente.
* Leonardo Milane é estrategista-chefe da VLG Investimentos.