Não é de hoje que todo mundo quer saber quem é quem. Mais precisamente, desde 1920 esse interesse deu origem ao famoso Who´s Who, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, nascido primeiramente do Oxford Dictionary of National Biography. Em sua 173ª edição, contempla cerca de 35.000 biografias de pessoas consideradas reconhecidas e respeitadas em todas as áreas, no mundo todo, de Nelson Mandela a Tom Cruise.
Conferir quem são os famosos do momento ou personagens históricos de grandes feitos não é difícil. Guias como o da Oxford e o Google – nosso moderno oráculo onipresente – estão aí para ajudar. Já saber quem são as pessoas e organizações que realmente influenciam os rumos da sua empresa ou entidade, para o bem ou para o mal, os chamados stakeholders, não é tão simples. Não é só seu cliente, seu funcionário, aquela autoridade ou associação comunitária. São todos juntos em um coletivo de interesses em comum dinâmico, rico, vivo e mutável.
As profundas mudanças sociais, econômicas e tecnológicas das últimas décadas fomentaram as reflexões e transformações que tiraram o foco do “eu” e colocaram em “nós”, no bem comum. Ou do ego-sistema para o ecossistema, como definiu o professor do MIT, Otto Scharmer. Em 2015, a ONU formalizou essa intensa aspiração por um futuro verdadeiramente melhor ao estabelecer a Agenda 2030, com seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), referendada por 193 nações.
Muito antes disso, em 2000, o Pacto Global já chamava as empresas a adotar políticas de responsabilidade social e corporativa. Hoje, mais de 12.000 corporações de 160 países integram essa rede com o propósito e o desafio de alinhar suas estratégias de negócios e sua atuação com os princípios universais dos direitos humanos, trabalho digno, preservação do meio ambiente e combate à corrupção, atuando de fato para contribuir com os 17 ODS. Durante a pandemia de COVID-19, mais do que nunca o interesse coletivo e o bem-estar comum foram colocados à prova e ressignificados como prioridade urgente e global.
Entre muitos especialistas e líderes de opinião, é consenso que estamos entrando na era do chamado stakeholder capitalism, definido como o capitalismo onde as empresas não devem focar apenas em gerar lucro a curto prazo para seus acionistas, mas se esforçar também em agregar valores – muitas vezes intangíveis, como confiança e reputação – ao negócio que garantam sua sobrevivência sustentável a longo prazo, considerando os interesses de todos os stakeholders e da sociedade como um todo. É a transição da Responsabilidade Social Corporativa para o ESG, onde critérios ligados a governança, atuação social e preservação do meio ambiente são usados para medir a performance de uma companhia e estabelecer seu valor monetário.
Em seu livro sobre este tema, o fundador e presidente executivo do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, destaca que o conceito de stakeholder remonta há mais de 50 anos, mas o que mudou hoje e que torna mais desafiador gerenciar este relacionamento é que os interesses agora são globais. Economias, sociedades e meio ambiente estão mais interligados que nunca. A internet e as redes sociais possibilitam que todos tenham acesso à informação, às diferentes realidades e desigualdades, elevando a conscientização mundial a outro nível.
Neste contexto, identificar quem são os stakeholders fundamentais para sua empresa ou entidade nas mais diversas esferas – público interno, órgãos reguladores, ONGs, entidades de classe, governos, ativistas, comunidades, atores econômicos e influenciadores digitais sociais, entre muitos outros – é o primeiro passo para definir uma estratégia de relacionamento de sucesso sustentável.
Mas a tecnologia avançada já nos permite ir além e visualizar de maneira estratégica o que chamamos lá trás de coletivo vivo de interesses. Combinando ferramentas de ponta, Inteligência Artificial e capacidade analítica, é possível construir verdadeiros mapas de conexão. Saber não só quem é, mas com quem e como esse stakeholder interage no ecossistema, quais são suas agendas, como elas mudam ao logo do tempo, que tendências podem surgir ou se ampliar. Em resumo: podemos acompanhar de forma sistemática – e em tempo real – e interferir de forma positiva no esforço conjunto para a construção de um mundo melhor. Vivemos ou não tempos incríveis?